A fome deixa marcas na vida, ela é insensível, cruel e ardilosa. Quando vejo, o nosso País, sendo novamente devorado por ela, o silêncio, concede lugar às palavras de quem já viveu o drama da fome. Era criança em Parintins – AM, quando minha infância foi assombrada pelo fantasma da extrema pobreza, entrei na estatística dos que sofrem por insegurança alimentar grave. E, neste cenário, foi inevitável o meu amargo e malfadado encontro com ela, a FOME.
Em um confronto diário, eu lutava, contra aquela dor que consumia o meu estômago, o fantasma da fome me assombrava, o acesso ao alimento era escasso, ao sentir o cheiro do café e das comidas que vinham das casas dos vizinhos, era uma tortura, um sofrimento!
Ouvia os pratos e colheres batendo na hora do almoço e do jantar, sabia que eles estavam comendo, naquele momento, despertava no meu íntimo um sentimento de vergonha, humilhação, impotência e opressão. Olhava, para expressão triste de minha mãe, que silenciosamente sofria. Jamais culpei meus pais, eles eram tão vítimas da desigualdade e da exclusão social quanto eu. Nunca indaguei a ausência de comida no prato, mas meu espírito questionava, será que Deus me esqueceu?
Sobrevivi! Deus, não me abandonou! Pedi e Ele me deu forças, consegui o meu primeiro emprego aos 12 anos como auxiliar de professora de datilografia, e hoje, com muito empenho, compromisso, dedicação e profissionalismo, por um trabalho honesto, ético e árduo, tenho condições para fazer às três refeições diárias. No entanto, meu coração dói, e junto vem a emoção ao lembrar da angústia de quem dormia com fome e acordava sem ter nada para comer.
O Brasil pede SOCORRO! Os dados são alarmantes, e atualmente, 33,1 milhões, de brasileiros estão passando fome como passei. Neste contingente de pessoas sem comer, mais da metade da população do país, 125,2 milhões vive com algum grau de insegurança alimentar, atingindo severamente a população na região norte (45,2%).
Diante desses números, não há como fazer um bom combate se não formos à luta. Não existe desenvolvimento em meio à pobreza e à miséria, vivemos uma crise humanitária, se faz necessário agir, a fome não espera, ela avança desgovernadamente.
Ao ler a Carta do Papa Francisco aos participantes no encontro de Santarém, no IV Encontro da Igreja Católica na Amazônia Legal, compreendi a minha missão evangelizadora, senti uma grande força espiritual dentro de minha alma. “Sejam corajosos e audaciosos, abrindo-se confiadamente à ação de Deus que tudo criou, nos deu a si mesmo em Jesus Cristo, e nos inspira através do Espírito a anunciar o Evangelho com novo empenho e a contemplar a beleza da criação, ainda mais exuberante nessas terras amazônicas, onde se experimenta a presença luminosa do Ressuscitado.” (trecho da carta do Papa).
Inspirada com a declaração, do primeiro cardeal da Amazônia brasileira, Dom Leonardo Steiner, ao afirmar que vai ser um pouco da voz do Papa Francisco na Amazônia. Minha missão começa com a primeira edição do Jornal Voz da Amazônia, um veículo de comunicação social com linha editorial norteada pelos valores da igreja Católica Apostólica Romana com distribuição gratuita. Com muita fé, audácia e coragem, quero unir a minha voz, e juntos, como “igreja em saída”, vamos seguir nesta caminhada em uma só voz, cuidando da Amazônia, ecoando no mundo a preservação da floresta, lutando contra à fome, à pobreza, à miséria, extirpando à injustiça, ouvindo o grito dos excluídos, respeitando as culturas e os povos originários, levando a informação e segurando nas mãos da verdade dos fatos. Não é filantropia, é um dever moral. Que nossa Senhora da Conceição, Padroeira do Estado do Amazonas, nos sustente nesta missão e assegure nossas forças.