Respeito, sorte, história e homenagens diversas deram o tom ao desfile das Escolas do Grupo Especial

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Fotos: Leonardo Leão / Manauscult

 

O desfile oficial das escolas de samba do Carnaval de Manaus 2019 encerrou nesta na madrugada de domingo, 3/3, com as escolas do Grupo Especial levando para avenida temas como empatia, luxo, riqueza, sorte, resistência e lutas por direitos iguais. Milhares de pessoas compareceram Centro de Convenções Professor Gilberto Mestrinho, popularmente conhecido como Sambódromo, no Dom Pedro, zona Centro-Oeste, para prestigiar as oito escolas que estão na disputa pelo título.

O desfile iniciou às 21h, com uma hora de atraso do horário previsto na noite de sábado, 2, por conta da chuva. As torcidas, no entanto, acompanharam cada escola até o fim, incentivando as agremiações que demonstraram muita garra e determinação.

“O Desfile das Escolas de Samba de Manaus se consolida como um dos maiores do País, representando a maior manifestação da cultura popular do Brasil. A Prefeitura de Manaus reconhece a importância dessa manifestação como parte da nossa identidade cultural, garantindo, por meio de lei, o apoio financeiro às agremiações”, afirmou o diretor-presidente em exercício da Fundação Municipal de Cultura, Turismo e Eventos (Manauscult), José Cardoso.

Primos da Ilha

Mesmo debaixo de chuva, a escola de samba Primos da Ilha, do bairro São Francisco, abriu a última noite de desfile levando à avenida do Samba um apelo contra diversas formas de preconceito, com o enredo “Não queremos aceitação, queremos respeito, se quer falar de cura? Cure seu preconceito”, e buscando sua permanência no Grupo Especial. “Se é pra ser debaixo de chuva, que seja! Essa é pra lavar o preconceito”, convocou o carnavalesco da agremiação, Werly Medeiros, no aquecimento da bateria, antes de os brincantes entrarem na avenida.

Com mais de 2 mil componentes na passarela entoando versos como “Qual será a cura da estupidez? Meu samba é a luz da consciência”, a escola fez uma viagem rumo ao “tesouro no fim do arco-íris”: um mundo de autoconhecimento, sem preconceito e sem violência. O enredo deu ênfase ao movimento LGBTQ+ e criticou a chamada “cura gay”, apresentada na comissão de frente por meio de médicos e drag queens. Além disso, a Primos da Ilha também representou em suas alas figuras marcantes para as lutas de minorias, como a vereadora pelo Rio de Janeiro, Marielle Franco, em alusão à violência contra a mulher e o povo negro, e a travesti Dandara.

Andanças de Ciganos

Segunda agremiação mais antiga do Amazonas, com 43 anos de fundação, e a segunda a desfilar, a Andanças de Ciganos, apresentou o enredo “O sonho de ser um milionário” para se perguntar, afinal, se o dinheiro é a riqueza mais importante.

Com uma explosão de dourado nas fantasias e alegorias, e aliando a folia à crítica política, os setores da agremiação fizeram um percurso histórico partindo de momentos como a Revolução Francesa e a Revolução Industrial até a escravidão no Brasil e, nos tempos contemporâneos, a revogação de direitos da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) e as condições de quem ainda vive como trabalhador análogo à escravidão. A Andanças de Ciganos terminou sua apresentação em cima do tempo, mas ainda dentro do limite de 70 minutos.

Vitória Régia

Na apresentação da Vitória Régia, o clima foi de homenagem: a escola celebrou os 70 anos do jornal amazonense A Crítica e a vida do seu criador, o jornalista Umberto Calderaro Filho. “Bomba, bomba no jornal, explodiram a redação”, cantava o samba-enredo da escola, lembrando momentos importantes da história do jornal, como uma tentativa de atentado no Dia de São Sebastião. Essa foi a segunda vez que a verde-e-rosa homenageou o jornal: a primeira foi em 1995, com o tema “Hoje quem bota a banca sou eu”.

A partir da personificação da vitória-régia, a índia Naiá, como narradora da história, a trajetória do jornal foi contada em 22 alas, com quatro carros alegóricos, desde o nascimento do periódico até a consolidação da Rede Calderaro de Comunicação (RCC), com as novas tecnologias de comunicação, como o portal e a transmissão do Carnaval e do Festival Folclórico de Parintins.

Vila da Barra

A quarta apresentação da noite ficou por conta da escola de samba Vila da Barra, do bairro da Compensa, zona Oeste de Manaus. Com três carros alegóricos, 20 alas e aproximadamente 2 mil participantes, a agremiação lançou a “sorte” na avenida: amuletos, bolas de cristal e jogos de azar deram o tom ao enredo “Azul e amarelo são as cores do meu amuleto, emociona Vila porque hoje a sorte está ao seu lado”.

Pelo terceiro ano, a agremiação convidou como carnavalesco Tiago Fartto, que trabalhou com Paulo Barros, um dos principais carnavalescos do Rio de Janeiro, e, com a experiência, levou inovações para o Sambódromo. Entre as fantasias, roletas da sorte, trevos de quatro folhas, bolas de cristal e dados, entre diversos talismãs. Em clima de animação, a bateria ditou o ritmo final do desfile, reunindo a harmonia dançando em frente aos componentes.

Reino Unido

Já era madrugada de domingo, 3, quando a Reino Unido da Liberdade “desceu o morro”, espalhou axé e tomou conta da avenida do samba cantando o enredo “Tambores, Crenças e Costumes Afro-Brasileiros, a Bênção Mãe Zulmira”, que retratou a grandeza da influência africana no processo de formação da cultura afro-brasileira. A apresentação comemorou os 30 anos da primeira vitória da escola no Grupo Especial, quando, à época, apresentou o enredo “Mãe Zulmira – Amanhecer de uma raça”.

Com a arquibancada completamente tomada pelos torcedores, na avenida, mais de 3,8 mil brincantes representaram a escola que busca o tetracampeonato. A dor e sofrimento foram representados pela comissão de frente que encenou a chegada ao Brasil em navios negreiros e a luta contra a escravidão. A partir daí, a história passa a ser contada sob o prisma da herança cultural.

O carro abre alas representou a miscigenação e as fazendas. O segundo carro mostrou a diversidade culinária, vestuário e linguagem. As festas populares afro-brasileiras vieram no terceiro carro, seguido do templo religioso em homenagem a mãe Zulmira. “Sob a benção da mãe Zulmira vamos fazer um excelente carnaval”, vibrou Reginei Rodrigues, presidente da Reino Unido da Liberdade, minutos antes da escola incendiar a avenida.

Unidos da Alvorada

Representante da Zona Centro-Oeste, a Unidos da Alvorada levou para a avenida o enredo “All-in – Copag para ver. Na passarela do samba a Alvorada dá as cartas”. Cartas, coringas, cartomantes e ciganos, totalizando aproximadamente 2,5 mil componentes, além dos 200 músicos, contaram a história da maior fabricante de baralhos no Brasil, com mais de um século de tradição.

A arquibancada “E”, localizada ao lado da concentração das escolas, se pintou de azul e branco para receber a agremiação. A empresária Joane Aguiar, morada do bairro, foi acompanhada das amigas assistir ao desfile. “Moro na Alvorada há 18 anos, mas esta é a primeira vez que vou ver a escola na avenida. Eu nunca consegui acompanhar por conta do meu trabalho, mas hoje fechei as portas mais cedo, me arrumei e vim ver o desfile”, contou.

A Grande Família

A gigante da Zona Leste, A Grande Família contou na avenida um dos principais motivos que movem os foliões: a felicidade. Com o tema/enredo “Eu quero é ser feliz”, a partir do homenageado o engenheiro civil Murilo Rayol, a escola convidou o público para embarcar pelo universo da felicidade numa viagem sem fronteiras, meio ou fim. Conhecido por ser um embaixador dos costumes e cultura amazonense, teve os momentos de suas famosas festas – Havayol, Arrayol, Rayolween – retratados nas alas.

“Receber uma homenagem em vida como esta é uma sensação incrível, não dá pra medir ou mensurar. É uma loucura. Ver o povo cantando a nossa música é muita felicidade. A grande família prezou por detalhes para esta apresentação e veio preparada para fazer o maior desfile desse carnaval”, afirmou Murilo Rayol.

Ao todo, mais de três mil componentes integraram a apresentação da A Grande Família, divididos em 22 alas e três carros alegóricos.

Mocidade Independente de Aparecida

O sol já estava raiando quando a Mocidade Independente de Aparecida entrou na avenida para contar a história do estado do Pará encerrando a noite de desfiles. As cores, cheiro e características do estado vizinho foram lembrados na avenida sob o enredo “Égua maninho! Espia só! Tem açaí, tem tucupi, tem maniçoba, tem carimbo, sairé e síria. Tem boto, tem iara, tem Marajó… Encantaria de arrepiar… tem Ver-O-Peso, rio e mar. Tem Nazinha abençoar… Aparecida vem mostrar que aqui também tem Pará…” ecoado pelos mais de 3,5 mil brincantes na avenida e no público na arquibancada,  que se pintou nas cores de verde e branco para ver a escola passar.

“Falar do Grão-Pará é contar um pouco da nossa história. A província abrangeu quase toda a Região Norte. Retratamos também uma história que quase ninguém conhece: a tragédia do Brigue Palhaço, uma embarcação comprida, que serviu de prisão para os que foram contrários à Independência do Brasil, porque se recusavam à subordinação ao Estado brasileiro. Mais de 250 pessoas morreram sufocadas com cal que tomou conta dos porões, tendo sido encontrados com os lábios e olhos roxos, uma expressão semelhante a um palhaço”, explicou o presidente da escola, Saulo Borges.

O enredo, segundo ele, demonstra que os nortistas sempre foram um povo guerreiro, que sempre brigou por atenção à Região Norte, fato que ainda hoje se mantém atual. “Entendemos que viemos de uma mesma raiz e fomentar a diferença entre Amazonas, Pará e demais estados é uma perda de tempo que poderia ser melhor utilizada para angariarmos conquistas maiores para todos; não faz sentido excluir paraenses, venezuelanos, haitianos, quando todos aqui vivemos”, afirmou.

Borges ressaltou ainda a importância do fomento à Cultura por parte da Prefeitura de Manaus. “Em um momento em que vivenciamos o questionamento do porquê destinar dinheiro para a Cultura, mesmo diante desse cenário, é de se parabenizar tanto o prefeito Arthur Virgílio Neto, quanto o governador Wilson Lima por garantirem  esse fomento”, concluiu.

Apoio

O Desfile Oficial das Escolas de Samba de Manaus contou com o apoio financeiro da Prefeitura de Manaus. No total, 17 escolas dos grupos “A”, “B”, “C” e “Especial” foram contempladas por meio do edital nº 001/2019, lançado pela Prefeitura, por meio da Fundação Municipal de Cultura, Turismo e Eventos (Manauscult). O Desfile é realizado pelo Governo do Estado do Amazonas, por meio da Secretaria de Estado de Cultura (SEC).

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