Além de prover a nutrição mais adequada, a alimentação com o leite materno, diretamente do peito da mãe, tem papel fundamental para assegurar a saúde bucal do bebê. Como parte das ações do “Julho Laranja”, a Prefeitura de Manaus, por meio da Secretaria Municipal de Saúde (Semsa), reforça a importância da amamentação para prevenir problemas ortodônticos de forma precoce e promover a saúde bucal infantil.
A odontopediatra do Centro de Especialidades Odontológicas (CEO) Norte da Semsa, Anna Louzada, atende na unidade bebês desde os primeiros meses de vida, e sempre aproveita as consultas para orientar pais, mães e outros acompanhantes sobre o aleitamento materno, que é essencial para o desenvolvimento adequado das estruturas bucais e da musculatura facial.
“Começo explicando o básico, que o bebê nasce com a mandíbula para trás, para facilitar no momento do parto, e é o esforço muscular exigido na amamentação que vai fazer com que ela ocupe a posição certa, e que o terço inferior da face se desenvolva melhor”, informa.
A amamentação, conforme Anna, também vai reforçar a respiração do bebê pelo nariz, o que vai contribuir para o crescimento médio da face. Para isso, ela ressalta que a alimentação deve ser feita de forma adequada, com a criança em posição inclinada, quase em pé, de frente para o peito e com o nariz livre para passagem do ar.
“Obstruir o nariz durante a mamada vai obrigar a criança a largar o peito e puxar o ar pela boca, o que não é bom, pois pode dar origem a um hábito nocivo, que é o da respiração bucal”, assinala a especialista.
Em razão do seu papel no desenvolvimento dos músculos faciais e da cavidade oral, Anna enfatiza que a amamentação deve ser exclusiva na alimentação do bebê nos primeiros seis meses de vida, conforme orienta a Organização Mundial de Saúde (OMS). A criança que mama no peito pelo tempo certo e respira pelo nariz, explica ela, tem menor probabilidade de precisar usar aparelho para correção de problemas como má oclusão dentária mais tarde, por volta dos 7 ou 8 anos.
Por outro lado, conforme a especialista, a substituição precoce do peito pela mamadeira terá efeito prejudicial no desenvolvimento do bebê. “Por mais que traga bicos novos, alguns até imitando a mama, ela não vai exigir o mesmo esforço dos músculos requerido na amamentação, muitas vezes até levando o bebê a deixar de mamar no peito”, alerta.
Respiração
Anna destaca que um dos problemas advindos do abandono precoce da amamentação, a respiração bucal, que ocorre pela boca em vez do nariz, pode afetar o desenvolvimento do maxilar superior do bebê e demandar o uso de aparelhos bucais, ou ocasionar outros problemas para a saúde e o bem-estar. “A criança pode ter o sono agitado à noite e não conseguir estudar ou se concentrar direito de dia, porque não dormiu bem”, relata Anna.
A odontopediatra orienta as mães a observar se a criança apresenta olheiras ou deixa a boca meio aberta com frequência, que são sinais de respiração bucal, e adotar medidas para prevenir que o hábito se instale. “Sempre que ver a boquinha do bebê aberta, ela deve empurrar de leve e fechar. E evitar ainda que ele use chupeta, coloque objetos na boca ou chupe o dedo, coisas que também podem contribuir para o problema”, pontua.
Para crianças mais velhas, informa Anna, são indicados exercícios, como segurar um fio dental nos lábios fechados por um minuto. “E lembrar sempre de fechar a boca”, orienta.
Anna aponta ainda que o problema pode ter origem em outros agravos de saúde, como o adenoide, ou inflamação dos tecidos na parte de trás do nariz, perto da garganta. Nesses casos, os usuários são orientados a buscar uma avaliação com outros profissionais, como o médico otorrinolaringologista.