Em plena selva amazônica, Raimundo Pereira faz cortes no caule de uma seringueira até fazer a árvore sangrar para coletar sua seiva branca, que depois será levada para a fábrica na vizinha Xapuri, a única no mundo que produz preservativos de látex, extraído de árvores nativas.
Seu gesto rápido e preciso revela a experiência de quem, todos os dias, desde os nove anos de idade, acompanhava o pai ao amanhecer para trabalhar na selva como seringueiro, seguindo os passos do avô.
“Ainda continuo com 51 anos. Amo este trabalho porque o ar aqui é puro. Continuarei fazendo isto enquanto meu corpo aguentar”, contou à AFP.
Raimundo não sabe ler ou escrever, mas se considera um “conhecedor dos produtos da selva e das plantas medicinais”.
“Hoje não penso mais em aprender a ler. Estou orgulhoso porque a fábrica me deu visibilidade social e melhores ganhos”, afirmou este pai de três filhos, todos na escola.
A produção da fábrica de Xapuri representa 20% dos 500 milhões de camisinhas distribuídas gratuitamente por ano pelo governo brasileiro em um país com 730.000 soropositivos, segundo os números mais recentes da OnuAids.
O Brasil é pioneiro na luta contra a Aids, com tratamentos gratuitos para doentes e soropositivos.
No total, 700 famílias de ‘seringueiros’ foram contratadas e 489 se encarregaram de fornecer à fábrica este ano 250 toneladas de borracha natural.