“CONVERTE-TE E CRÊ NO EVANGELHO”

EDITORIAL: Dom Leonardo Ulrich Steiner, primeiro Cardeal da Amazônia, arcebispo de Manaus – Edição nº 6
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Foto: Arquidiocese de Manaus

Com a celebração das Cinzas iniciamos a quaresma. É o caminho da conversão, da mudança, da transformação que o Evangelho propõe. Um caminhar com Jesus que, assumindo a dor, sofrimento e a morte, salva e redime, inaugurando a vida nova do Reino com a ressurreição.

Os sinais da verdadeira conversão e transformação são apontados por Jesus em Mt 6,1-18. Aquele modo de entrar na dinamicidade da liberdade e da libertação, na dinâmica de Deus. A esmola, a oração e o jejum são os exercícios de conversão e penitência que o tempo da quaresma nos possibilitam. Mas como nos exercitamos? Jesus a nos dizer que a respeito da esmola, que ela necessita ser gratuita, livre, amorosa: “Tu, quando deres esmola, não saiba tua mão esquerda o que faz a direita, de modo que tua esmola fique em segredo”.

O exercício da oração acontece no recolhimento, na atenção de uma relação gratuita, no encontro tu-a-tu, uma escuta, uma palavra: “Tu, quando orares, entra no teu quarto, fecha a porta e ora a teu Pai que está em segredo. E teu Pai que vê o que está em segredo, te retribuirá”.

O exercício do jejum está na animação de quem está na alegria da espera, do encontro, da manifestação de Deus. Jejum como se não jejuasse, pois à espera da plenificação que o Evangelho possibilita. Uma manifestação amorosa de Deus: “Tu, quando jejuares, perfuma a cabeça e lava teu rosto, para que os homens não vejam que estás jejuando, mas somente teu Pai, que está em segredo. E teu Pai, que vê o que está em segredo, te retribuirá”.
Mudança de vida, conversão. A quaresma lembra a necessidade da conversão pessoal, uma identificação sempre maior e mais nítida com Jesus. Uma conversão comunitária, pois as comunidades devem ser o espaço do encontro, da acolhida, do perdão, da reconciliação, da fraternidade. Uma conversão ecológica! Papa Francisco, na Laudato Sì, pede uma conversão para com o meio ambiente. O cuidado da casa, a casa de todos os seres.

No tempo da quaresma as imagens gritantes das crianças e dos idosos desnutridos, famintos, morte do povo Yanomami continuarão dizendo da marginalização e destruição da humanidade. Poderiam ser a imagem que alerte no tempo da quaresma que há necessidade urgente de mudança em relação à dignidade de alimento, de cultura. A imagem que pudesse acordar para a verdadeira fraternidade, onde as culturas e povos possam viver a seu modo e não sejam exploradas as suas terras, privando de água potável, de animais, de plantio, de peixe. Seria salutar que o Evangelho, no tempo da quaresma, despertasse para a grandeza da fraternidade que constrói, acolhe, deixa florescer a vida, cuida das culturas.

O gesto das cinzas faz ressoar aos ouvidos as palavras: “Convertei-vos, crede no Evangelho”! O caminho do Evangelho é um caminho transformador, libertador. Deixar-se transformar por ele.

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