“Quanto ao clima, há fatores que perduram durante longo tempo, independentemente dos eventos que os desencadearam. Por este motivo, já não podemos deter os danos enormes que causamos. Estamos a tempo apenas de evitar danos ainda mais dramáticos” (Papa Francisco, Laudate Deum, n º 16).
Os vídeos, as fotografias, que chegam à Roma, onde participo do Sínodo da Sinodalidade, deixam-me com falta de ar. A fumaça que não deixa ver os contornos da ponte que é quase um símbolo da cidade de Manaus, evidencia as queimadas, demonstra o descuido em relação ao meio ambiente, indica a estrada da dramaticidade de que fala o Papa Francisco. Já vínhamos suportando a fumaça, agora tornou-se dramático.
Os rios com pouca água, os igarapés secos, as comunidades isoladas por falta de comunicação aquática. Os nossos grandes rios dos quais nos orgulhávamos, tornaram rios rodeados com grandes margens de areia, lembrando o deserto. O que temos feito com a floresta?
Fatores perduram durante longo tempo e agora somos atingidos no corpo e no espírito. No corpo pela fumaça que respiramos, pela diminuição das águas que matam os peixes e tornam a água ainda menos bebível. No espírito, pois feridos pela fome, pela devastação que deteriora as matas e os rios, calando a poesia e o canto. Pensando nos irmãos ribeirinhos, na natureza, fui tomado por certa angústia e revolta.
Não vemos ações que despertem para a ecologia integral, para o cuidado da casa comum. Quais as iniciativas tomadas para uma cultura do cuidado em relação ao meio ambiente? O que se tem feito para despertar as comunidades e as famílias que o fogo destrói a nossa casa comum? Essa dramaticidade apenas confirma que “estamos a tempo apenas de evitar danos ainda mais dramáticos”.
Ano após ano vemos repetir as queimadas, a poluição dos igarapés. E a responsabilização? Quais as iniciativas para que as comunidades, a sociedade, cuidem da casa comum? Será necessário, como no tempo mais sofrido do COVID 19, ser notícia mundial para que projetos sejam discutidos e as ações sejam empreendidas? Qual a ação efetiva no Estado do Amazonas, na cidade de Manaus em relação ao meio ambiente em vista de uma ecologia integral? O que estamos debatendo nas universidades, nas escolas, nas comunidades, para que a nossa região permaneça um espaço de beleza, de cultura, de povos originários? Um espaço onde todos nos sentimos em casa!
O que será do Amazonas se continuarmos a destruir, a descuidar? Como canta o poeta e cantor: “Não deixe o meu rio secar, agonizar e morrer, o que será nesse mundo se o rio e da mata desaparecer. Não, eu não vou devastar…”. Cuidemos da irmã água, das irmãs árvores, do irmão ar, dos irmãos rios, da mãe terra. É urgente uma mudança da nossa relação com o meio ambiente, para que a natureza possa continuar a cuidar de nós. Não nos falte a liberdade de respirar ar puro.