O MEU ENCONTRO COM A FOME

SOCORRO MAIA – MTB- 1370/AM – JORNAL VOZ DA AMAZÔNIA- EDIÇÃO Nº 1
Facebook
Twitter
WhatsApp
Foto: Edson Piola/portaldoamazonas.com

A fome deixa marcas na vida, ela é insensível, cruel e ardilosa. Quando vejo, o nosso País, sendo novamente devorado por ela, o silêncio, concede lugar às palavras de quem já viveu o drama da fome. Em minha infância  em Parintins – AM, fui assombrada pelo fantasma da extrema pobreza durante seis meses, neste período, entrei nos números das  estatística dos que sofrem por insegurança alimentar grave. E, neste cenário, foi inevitável o meu amargo e malfadado encontro com a FOME.

Os dias eram longos e muito difíceis, era um confronto diário, lutar contra aquela dor que consumia o meu estômago, covardemente o fantasma da fome me assombrava em minha triste rotina, o acesso ao alimento era escasso, era um tormento sentir o cheiro do café e das comidas que vinham das casas dos vizinhos. Sentir o cheiro e não poder consumir  era uma tortura, um sofrimento.

É difícil descrever a  percepção dos sentidos da fome, “ Ela” a fome é  expressa por sensações e sentimentos conflitantes vivenciados pelo corpo e pela alma, essa constatação dos sinais da fome são intensos. Logo, ao ouvir os pratos e colheres dos vizinhos batendo na hora do almoço e do jantar, sabia que eles estavam comendo, naquele momento, despertava no meu íntimo um sentimento de indignação, revolta, tristeza, vergonha, raiva, humilhação, impotência e opressão. Eu era apenas uma criança, o faminto nem sempre se interroga, mas sempre tem uma esperança de viver um novo amanhã. Lembro do olhar e da expressão triste de minha mãe, que silenciosamente sofria. Jamais culpei meus pais, eles eram tão vítimas da desigualdade e da exclusão social quanto eu. Nunca indaguei a ausência de comida no prato, mas meu espírito  conversava com o meu criador e questionava, será que Deus me esqueceu?

Sobrevivi a agonia da fome, “ela” não foi crônica em minha vida. Deus, não me abandonou! Pedi e Ele me deu forças e mudamos de Parintins para a capital do Amazonas, Foi em Manaus que  consegui o meu primeiro emprego aos 12 anos como auxiliar de professora de datilografo. Hoje, com muito empenho, compromisso, dedicação e profissionalismo, com um trabalho honesto, ético e árduo, tenho condições para fazer às três refeições diárias. No entanto, meu coração dói, e junto vem a emoção ao lembrar da angústia de quem dormia com fome e acordava sem ter absolutamente nada para comer.

O Brasil pede SOCORRO! Os dados são alarmantes, e atualmente, 33,1 milhões, de brasileiros estão passando fome como passei. Neste contingente de pessoas sem comer, mais da metade da população do país, 125,2 milhões vive com algum grau de insegurança alimentar, atingindo severamente a população na região norte (45,2%).

Contudo, diante desses números, não há como fazer um bom combate se não formos à luta. Não existe desenvolvimento em meio à pobreza e à miséria, vivemos uma crise humanitária, se faz necessário agir, a fome não espera, ela avança desgovernadamente.

Ao ler a Carta do Papa Francisco aos participantes no encontro de Santarém, no IV Encontro da Igreja Católica na Amazônia Legal, compreendi a minha missão evangelizadora, senti uma grande força espiritual dentro de minha alma. “Sejam corajosos e audaciosos, abrindo-se confiadamente à ação de Deus que tudo criou, nos deu a si mesmo em Jesus Cristo, e nos inspira através do Espírito a anunciar o Evangelho com novo empenho e a contemplar a beleza da criação, ainda mais exuberante nessas terras amazônicas, onde se experimenta a presença luminosa do Ressuscitado.” (trecho da carta do Papa).

Inspirada com a declaração, do primeiro Cardeal da Amazônia brasileira, Dom Leonardo Steiner, ao afirmar que vai ser um pouco da voz do Papa Francisco na Amazônia. Minha missão começa com a primeira edição do Jornal Voz da Amazônia, um veículo de comunicação social com linha editorial norteada pelos valores da igreja Católica Apostólica Romana com distribuição gratuita. Uma importante contribuição

Com muita fé, audácia e coragem, quero unir a minha voz, e juntos, como “igreja em saída”, vamos seguir nesta caminhada em uma só voz, cuidando da Amazônia, ecoando no mundo a preservação da floresta, lutando contra à fome, à pobreza, à miséria, extirpando à injustiça, ouvindo o grito dos excluídos, respeitando as culturas e os povos originários, levando a informação e segurando nas mãos da verdade dos fatos. Não é filantropia, é um dever moral. Que nossa Senhora da Conceição, Padroeira do Estado do Amazonas, nos sustente nesta missão e assegure nossas forças.

Facebook
Twitter
WhatsApp
Email
Telegram
Print

MATÉRIAS RELACIONADAS

TCE - EM PAUTA

MANAUS

ASSEMBLEIA EM PAUTA

CÂMARA EM PAUTA

SÉRIE O AMAZONAS