MCTI e Mamirauá investigam doenças que passam de animais para humanos no Amazonas

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Uma pesquisa conduzida pelo Instituto Mamirauá/MCTI busca identificar os fatores de risco associados à transmissão de zoonoses, ou seja, doenças animais que podem ser transmitidas aos seres humanos. Esse trabalho faz parte de um projeto mais amplo sobre epidemiologia de mamíferos da fauna cinegética.

Foto: Amanda Lelis

Para isso, foram descritos os hábitos de caça da região, delimitando as diferentes etapas e modos de realização da atividade pelos comunitários. Entre os dados levantados estão, por exemplo, o modo de busca pelo animal, o número de participantes, gênero e faixa etária dos comunitários envolvidos nas atividades, modo de evisceração, de limpeza, de preparo e de consumo por essas comunidades.

A médica veterinária Louise Maranhão de Melo, pesquisadora do Instituto Mamirauá, ressalta que os mamíferos são os mais consumidos pelas comunidades da região, com destaque para a paca (Cuniculus paca), a cutia (Dasyprocta fuliginosa), a queixada (Tayassu pecari) e a anta (Tapirus terrestris).

“Animais silvestres são considerados potenciais reservatórios de doenças infecciosas. Muitas doenças que geralmente são causadas em seres humanos são oriundas de animais, sejam silvestres ou domésticos”, afirma a pesquisadora.

A caça por subsistência se configura como uma atividade comum entre as comunidades rurais do Amazonas, como forma de suprir as necessidades proteicas dessas populações. A pesquisa, conduzida desde 2013, visa compreender os possíveis fatores de risco para transmissão de doenças relacionados a essa atividade, a partir do acompanhamento de quatro comunidades na Reserva de Desenvolvimento Sustentável Amanã (AM).

Preocupações
Louise destaca que, segundo a literatura, 60% das doenças que ocorrem em seres humanos são zoonoses e 71% delas são oriundas de animais silvestres. De acordo com a veterinária, a ausência de inspeção sanitária e de equipamentos de proteção individual para os comunitários aumenta o risco de contágio. Durante a pesquisa, além do acompanhamento das diferentes etapas da caça, também foi feita entrevista a partir de questionários semiestruturados com 21 pessoas desses grupos.

Os resultados demonstraram que, na Reserva Amanã, a atividade de caça é feita integralmente pelos homens, sendo as mulheres responsáveis pelo preparo da carne. Um dado preocupante apontado pelo estudo é que 95,2% dos comunitários que participaram do questionário não associam o risco de transmissão de doenças ao contato direto com sangue e outras secreções dos animais abatidos. E todos os entrevistados declararam não utilizar equipamentos de proteção para evisceração e limpeza dos animais, tais como luvas e botas.

Outro dado apontado pela pesquisa foi que a evisceração e limpeza são feitos, majoritariamente, no ambiente de floresta, sendo 71,4% dos casos, e as carcaças e vísceras são geralmente lavadas no corpo d’água mais próximo. As vísceras são descartadas principalmente na mata, caracterizando 66,6% dos casos narrados, ou na área da comunidade, quando a limpeza é feita nesse local. O local escolhido para limpeza e evisceração está diretamente relacionado à espécie caçada, em função de seu peso e tamanho.
De acordo com o estudo, os comunitários possuem a prática de oferecer as vísceras cruas para os cães da comunidade, como informado em 76% dos relatos.

“Uma vez que esse cão come um fígado com os cistos, por exemplo, as larvas vão se desenvolver para a fase adulta nesses animais, fechando o ciclo do parasito, e assim eles eliminam ovos pelas fezes contaminando o ambiente. A transmissão ocorre através da ingestão de ovos, seja pela água, alimento ou mãos contaminadas”, explica Louise.

Patógenos
Outra etapa do trabalho é a coleta de amostras biológicas para pesquisa de patógenos, de análise em laboratório. Por exemplo, entre as amostras analisadas, duas pacas possuíam cistos hidáticos no fígado, o que significa que apresentavam a forma larval de verme do grupo das tênias. Em uma das amostras de um caititu foram verificados ovos característicos de Capillaria hepatica, outro verme parasitário. E a avaliação sorológica de uma anta indicou o contato desse animal com os agentes causadores de leptospirose e toxoplasmose.

Louise ressalta que a presença dos patógenos nas amostras de sangue coletadas não sugere, necessariamente, que os animais estavam doentes. No entanto, indica que foram detectados anticorpos para agentes específicos, e que, possivelmente, existe a presença desses patógenos no ambiente. Algumas dessas doenças podem ser transmitidas a partir do contato direto com sangue, secreções e urina de animais infectados, no caso da leptospirose, ou a partir do consumo de água e alimentos contaminados com ovos ou oocistos embrionados relacionados às enfermidades equinococose, capilaríase hepática, e toxoplasmose.

“Os resultados obtidos indicam que os fatores de risco estão mais associados ao contato com o sangue, urina e secreções durante os processos de evisceração e limpeza, do que ao consumo”, enfatiza a veterinária.

Foi observada, nessas comunidades, grande restrição no consumo de qualquer alimento mal cozido, seja ele originário da caça ou não.
Outros fatores de risco evidenciados foram a contaminação do solo, água e alimentos com oocistos esporulados ou ovos embrionados e a prática de alimentar os cães com vísceras cruas. De acordo com Louise, o conhecimento dos fatores de risco para a transmissão dos patógenos pode contribuir para o estabelecimento de medidas profiláticas para os comunitários.

Fontes: Instituto Mamirauá e MCTI

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