A onça-pintada é fundamental para a conservação da floresta

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Da grande família biológica dos felídeos (que inclui desde o gato que mora na sua casa até o “rei” leão), ela é a terceira maior do mundo, atrás apenas do tigre e do próprio leão, sendo a maior de todas as Américas. No Brasil mesmo, não tem animal que se compare em força e eficiência com a onça-pintada.

Apesar de não usarem a velocidade para a caça e a locomoção, as onças são ágeis e silenciosas na busca de alimentos. Além de excelentes caçadoras em terra, elas podem escalar árvores e até mesmo nadar com facilidade. Isso sem falar na mordida que, comparada ao tamanho do corpo, é considerada a mais potente de todos os felinos.

Com todas essas qualidades e habilidades fazem da onça um predador de topo de cadeia. tem uma dieta bem variada e não existem animais na cadeia alimentar que se alimentem dele. Para a natureza, essa é uma posição muito importante, como explica o pesquisador do Instituto Mamirauá, Emiliano Ramalho.

“A onça é fundamental nos lugares onde vive. Ela controla as populações de animais que ela caça e, com isso, mantém o equilíbrio dessas comunidades biológicas”, diz. “Ou seja, a onça-pintada é fundamental para a conservação da floresta, e a floresta é essencial para a sobrevivência da onça-pintada”.

É encontrada em ambientes como a Caatinga, o Pantanal, a Mata Atlântica e a Amazônia. Se em algumas regiões do mundo, a onça-pintada já está extinta ou ameaçada de extinção, por causa da ação de nós, seres humanos, a Amazônia abriga uma grande população de onça-pintada, a maior do mundo, com mais de 10 mil indivíduos!

“A Amazônia é o principal ecossistema para a conservação da onça-pintada, porque nela vive a maior população de onças do planeta, onde existe a maior quantidade de áreas protegidas para a espécie e também abundância de presas”, conta Emiliano. Vamos saber agora como vivem as onças-pintadas nas várzeas da Amazônia, onde as florestas ficam alagadas por alguns meses do ano com a cheia dos rios.

Tem onça na cheia!

Se as onças-pintadas já são, naturalmente, animais únicos e impressionantes, a vida na várzea faz delas ainda mais diferentes. Por causa do sobe e desce do nível dos rios, as onças de lá apresentam um comportamento que, dentro da espécie, não é visto em nenhum outro lugar. Durante quatro meses do ano, quando o rio transborda seus limites e enche as florestas com água, esses animais buscam a parte de cima das árvores para morar. Para se abrigar, eles preferem árvores com copas largas e galhos longos. É o caso do apuizeiro, vegetação típica da várzea. Troncos de enormes árvores caídas, como a gigante samaumeira, também são opções.

É um período de baixa atividade para as onças, em que o número de presas disponíveis é menor, e elas nadam de uma árvore para outra em busca de alimento. Se durante a época seca, as onças dessa região podem se alimentar de animais como jacaré-tinga, tamanduás-mirins e também de ovos de jacaré-açu; na cheia, a dieta básica é feita de bichos-preguiça e macacos-guariba, que são refeição garantida o ano todo [Veja o jogo da memória  “A dieta da onça”].

Todo esse processo se repete anualmente, com maior ou menor intensidade, dependendo de como foi a cheia do rio. As condições do ambiente também determinam mudanças físicas e comportamentais nas onças da várzea amazônica. Em comparação às “parentes” do Pantanal, que ultrapassam os 100 quilos, as onças-pintadas dos alagados são menores e mais esbeltas. A maior onça de várzea já documentada pela ciência é um macho de 72 quilos que recebeu o nome de Galego. O registro foi feito no início deste ano por pesquisadores do Instituto Mamirauá.

A época preferida de acasalamento para as onças-pintadas geralmente acontece antes de períodos de fartura de alimento. Na várzea, as onças se reproduzem no início do período da seca, entre os meses de agosto e setembro. A gestação dura de 90 a 110 dias e, em geral, as fêmeas têm dois filhotes por vez. As onças se dedicam às crias por até dois ou três anos e somente depois costumam acasalar de novo.

De olho nas onças    

E como sabemos tudo isso? É que o Instituto Mamirauá acompanha de perto a ecologia de onças-pintadas que vivem nas florestas de várzea da Amazônia. São mais de dez anos de pesquisa sobre esses animais na Reserva Mamirauá, que fica no estado do Amazonas. A reserva é um tipo de área protegida, citada mais cedo pelo pesquisador Emiliano. “As pesquisas servem para criar formas de conservação que sejam eficientes para a espécie”, fala Emiliano, líder do Grupo de Pesquisa em Ecologia e Conservação de Felinos da Amazônia do Instituto Mamirauá.

Para estudar os modos de vida desses felinos, o grupo instala armadilhas fotográficas em vários pontos da floresta. “A armadilha é basicamente uma câmera fotográfica normal, mas ela é ativada por movimento”, explica Emiliano. Assim, os pesquisadores registram imagens das onças e podem fazer a contagem populacional dos animais na reserva.

Outra tecnologia usada pelo Instituto Mamirauá são os colares telemétricos, ajustados ao pescoço das onças. Para isso, os pesquisadores fazem capturas de onças-pintadas, momento em que a saúde dos animais também é analisada e os animais são soltos novamente na natureza. “A gente faz o exame clínico para observar se tem alguma alteração corporal, nos dentes, nos sistemas ósseo, muscular, oftálmico (dos olhos), mucosas. Para ver se tem algum sinal clínico de doença, ver se o animal está bem”, conta a veterinária Louise Maranhão.

Os colares são equipados com um sistema GPS (Global Positioning System ou, em português, Sistema de Posicionamento Global) e permitem acompanhar a locomoção das onças o ano inteiro. Três onças-pintadas são monitoradas atualmente pelo IDSM.

 “As pesquisas têm gerado informações muito importantes sobre a onça-pintada e ressaltado a importância não só da várzea, mas da reserva Mamirauá para a conservação da espécie”, afirma o pesquisador. “Outro objetivo é melhorar a qualidade de vida das pessoas que vivem em contato direto com esses animais na Amazônia, no caso as populações ribeirinhas”.

Com informação do Instituto Mamiraúa - João Cunha
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